O Dever dos Monarquistas - Nabuco escreve com muita propriedade | Resenha
A importância de Joaquim Nabuco como um estadista do Brasil no século XIX é uma coisa muito óbvia, cuja atuação desempenhou um papel crucial na abolição da escravidão. Ele é autor de obras famosas, mas curiosamente pouco conhecidas, como “O Abolicionismo” e “Minha Formação”. Porém, hoje irei falar um pouco sobre uma carta escrita por Nabuco em 1895 ao Almirante Jaceguay, intitulada de “O Dever dos Monarquistas”, na qual ele defende fortemente a Monarquia Constitucional como forma de governo.
Nessa carta em que Joaquim Nabuco responde a uma pergunta feita pelo Almirante Jaceguay sobre sua persistência como monarquista após a queda do regime monárquico em 1889. Nabuco fornece uma eloquente, erudita e sincera resposta, destacando seu profundo amor pelo Brasil. Ele aborda questões raciais, comparando a situação dos negros nos Estados Unidos, no Império do Brasil e nas monarquias europeias. Nabuco expõe o racismo enfrentado pelos negros nos Estados Unidos e destaca a difícil ascensão social deles na “grande República do Norte”.
Nabuco afirma:
“(…) Nos Estados Unidos seria acaso possível a um mulato, qualquer que fosse o seu gênio, chegar à posição de realeza literária. (…)” – aqui ele faz uma referência ao Machado de Assis.
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É possível notar com a leitura da carta que no Brasil Imperial havia uma notável ascensão social de negros e mestiços em diversas áreas, incluindo jornalismo, literatura, advocacia, política, engenharia, medicina, ensino, ciência e religião. Durante o Segundo Reinado, não havia barreiras intransponíveis para o reconhecimento de talento e genialidade, como evidenciado pelos exemplos de Machado de Assis, André Rebouças, José Maria da Silva Paranhos, Eusébio de Queiroz e outros membros da classe média mestiça que são reconhecidos até hoje.
Além disso, Joaquim Nabuco diz na carta as virtudes não somente sociais, mas também políticas da Monarquia. Em um trecho, ele escreve:
“(…) tenho por certo que a função benéfica da monarquia no brasil foi esta: descobrimento, conquista, povoamento, cristianização, edificação, plantio, organização, defesa do litoral, expulsão do estrangeiro, unificação e conservação do todo territorial; administração, estabilidade, uma ordem perfeita no interior;
independência, unidade política, sistema parlamentar, sentimento de liberdade, a altivez do caráter brasileiro, inviolabilidade da imprensa, força das oposições, direito das minorias; tirocínio, aptidão, a moralidade administrativa; a vocação política desinteressada; crédito, reputação, igualdade civil entre as raças,
extinção pacífica da escravidão; glória militar, renúncia do direito de conquista, arbitramento internacional; cultura literária e científica a mais forte da américa latina; por último, — como o ideal realizado da democracia antiga, o governo do melhor homem – um reinado pericleiano de meio século”.
Em “O Dever dos Monarquistas”, Joaquim Nabuco elogia o sistema federativo monárquico por proporcionar estabilidade política ao Brasil por mais de meio século. Ele argumenta que a federação era viável na Monarquia, já que o chefe de Estado não tinha interesse em minar a autonomia das províncias em prol de seu sucessor ou partido, ao contrário dos presidentes da República. Nabuco termina a carta com uma reflexão perspicaz e verdadeira.
“(…) sei que é tão difícil a restauração da monarquia como é difícil a restauração da religião, da família, da sociedade. em política, porém, nada é mais raro do que a faculdade de discernir o que está morto do que está apenas interrompido. quem sabe por que misteriosa renovação não pode estar passando debaixo da terra brasileira a planta que tanto tempo lhe deu sombra?”.
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