O Conde d'Eu na Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai teve seu início em dezembro de 1864, a guerra foi o maior conflito registrado até os dias de hoje na América do Sul. Na data de início do conflito o Conde d’Eu estava na europa e não escondeu do imperador D. Pedro II que tinha desejo de tomar parte na guerra e era natural que, assim que voltasse ao Brasil, ele iria para o front, pois o próprio imperador havia feito dele marechal do exercíto brasileiro.

Algumas coisas atormentavam o imperador, sendo elas: “Como irei indicar o Conde d’Eu, marechal do exército e marido da Princesa Isabel, senão para o cargo de comandante  em chefe?” A segunda questão era, “Se o nomeasse comandante em chefe, como fazê-lo sem preterir os generais de carreira?” A terceira questão era em relação a nacionalidade do conde, “Como nomeá-lo sem ferir o amor-próprio dos militares brasileiro?”. A ida do Conde d’Eu à Guerra era necessidade por dois motivos: a vocação natural do Conde para funções militares e ele era o príncipe consorte do Brasil e tinha dever de lutar pelo país.

Conde d'Eu

Imagem: Reprodução/Domínio Público

O PLANO DE D. PEDRO II

A irmã de Pedro II, juntamente com o Príncipe de Joinville, enviaram diversas cartas ao imperador para dizer que o Conde d’Eu precisava ir imediatamente ao front. O Conde d’Eu ouviu da boca do imperador que o então Marquês de Caxias seria o comandante das forças em operação, e o Conde sabia muito bem a sua importância para o imperador e para a Monarquia, sendo assim, se o comandante em chefe era Caxias, não lhe restaria mesmo muitas chances. Conde d’Eu fica sabendo que seu irmão se casaria e programou uma nova viagem, que não estava nos seus planos para acontecer tão cedo. Quando estava decidido que iria, eis que D. Pedro II o surpreende.

D. Pedro II, num jantar informal em sua residência no Palácio de São Cristóvão, o imperador chama o Conde d’Eu no canto e pede para que não viaje, pediu para aguardar e deixar a viagem para mais tarde e que a guerra ainda não tinha acabado e poderia precisar dele de um momento para outro, o Conde não levou muito a sério e ficou descrente mas o imperador acrescentou: “Para substituir Caxias, inclusive”.

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Em 1869, Caxias escreve ao imperador anunciando a conquista triunfante da cidade de Assunção, capital do Paraguai, numa batalha que ficou conhecida como Dezembrada. A conquista foi o limite para Caxias. A cidade foi conquistada mas Solano Lopez, o ditador sanguinário paraguaio, estava em fuga. Caxias decretou o fim da guerra pois, do seu ponto de vista, a captura e morte de Lopez não era uma condição. Mas sejamos sinceros, é estranho que na hora do “gran finale” o Caxias tenha recusado participar, né? E, além disso, o Guilherme Xavier de Sousa, substituto imediato de Caxias no comando, se negou a substituí-lo, coisa rara no exército.

Conde d'Eu

Imagem: Reprodução/Museu de Belas Artes

Antes da Guerra, o D. Pedro II ajudou o Caxias a continuar no comando por conta de uma crise sem precedentes com os liberais e colocando até mesmo o trono em risco, por conta disso o Caxias não abandonou o imperador por aí, todas essas cenas estavam ensaiadas, tudo milimetricamente combinado, se o Caxias tivesse deixado a guerra sem nada combinado ele seria um traidor da pátria, um desertor. Após a volta de Caxias, o imperador lhe condecorou com o título de Duque, único desse gênero concedido ao longo de todo o período monárquico no Brasil. O ato de Caxias fez com que ele fosse questionado por pessoas próximas ao imperador e também pela imprensa.

D. Pedro II envia uma carta à Petrópolis enderaçada ao Conde d’Eu, convocando-o para uma reunião no palácio. Conde d’Eu fica sabendo de tais circunstâncias, aceita o pedido euforicamente e parte ao front para o comando do exército brasileiro.

Podemos imaginar o quanto D. Pedro II deve ter se esforçado para manter os seus planos secretos e suas estratégias no silêncio das suas salas de São Cristóvão, sem poder se confessar com ninguém, nem mesmo com os seus parentes mais próximos. Caxias foi recebido no palácio e recebeu a Medalha de Campanha e pediu para a D. Tereza Cristina que o colocasse no peito do marquês. Dias depois, o imperador elevou Caxias à Duque, lhe deu a Ordem de Pedro I (título e condecoração jamais outorgados a nenhum outro brasileiro), além de conceder também a Grã-Cruz da Rosa.

Fica claro que D. Pedro II queria a mudança de comando, estratégicamente pensada, com o intuito de realçar a figura do Conde d’Eu. A mudança de comando colocou o Conde d’Eu como protagonista de um ato muito importante, muito revestido de simbolismo e fazia parte do processo de criação da figura do herói que pôs fim à guerra, Pedro II queria colocá-lo em uma condição que ele nunca havia alcançado, ou seja, em torná-lo brasileiro de fato.

Conde d'Eu

Imagem: Reprodução/Domínio Público

O CONDE D’EU NA GUERRA

Em 6 de dezembro de 1868, a Batalha do Itororó, a primeira grande batalha vencida pelo Brasil contra o paraguai, ela foi tão importante que se criou uma canção muito popular de ninar “Fui no Itororó beber água e não achei…”. No dia 11 de dezembro de 1868, aconteceu a Batalha do Avaí. Entre os dias 21 e 27 de dezembro, a Batalha de Lomas Valentinas. A 30 de dezembro de 1868, a Batalha de Angostura. No início de janeiro de 1869, Caxias toma finalmente Assunção. Lopez, o ditador paraguaio, não se rendia e alimentava com isso a fogueira do discurso do imperador, que o queria inteiramente derrotado. Após a renuncia de Caxias, Lopez teve uma trégua, ele viveria escondido por cerca de 460 dias até que o Conde d’Eu chegasse ao front.

A Batalha do Cerro Corá, em 10 de março de 1870, pôs fim à guerra do Paraguai. Solano Lopez foi cercado pelas tropas brasileiras e ao oferecer resistência foi morto pelo soldado brasileiro José Francisco Lacerda, o Chico Diabo. A notícia só chegaria no Brasil apenas no dia 17 de março e o comandante do exército, o Conde d’Eu, no dia 29 de abril.

A chegada do Conde d’Eu teve toda uma festa cívica com forte viés ufanista, como diz Andre Rebouças em seu diário, “A festa foi indrescritível. Foi um delírio.” Toda a família imperial desfilou pela Rua do Ouvidor até o Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista. Depois no Palácio Isabel, no bairro das Laranjeiras, residência oficial do Rio de Janeiro do Conde e da Condessa d’Eu, receberam várias comissões, discursos, desfiles e tudo mais.

Conde d'Eu

Imagem: Reprodução/Domínio Público

Conde d’Eu, o novo herói nacional, não fez um papel tão decisivo assim no curso da guerra. Pelo contrário, várias vezes quis desetar do cargo de comandante do exército e foi veementemente desautorizado pelo imperador. Após receber a notícia do morte de Lopez, o Conde enviou uma carta ao imperador pedindo perdão “pelas descrenças e outras criançadas”. O Conde d’Eu sabia a importância do seu papel no cenário da guerra e , ao que indica, tudo havia sido combinado entre ele e Pedro II.

A principal exigência que o Conde d’Eu fez para entregar de volta o poder aos paraguaios e selar um tratado de paz foi justamente a libertação total e incondicional dos escravos naquele país, atitude que mostra o espírito progressista que povoava o cotidiano da Princesa Isabel no seu processo de formação para assumir o papel principal da monarquia brasileira no Terceiro Reinado.

É possível notar que qualquer ato da monarquia que fosse ao encontro de mudanças que ferissem de morte os interesses dos fazendeiros e escravistas brasileiros era confiado ao Conde d’Eu e à Princesa Isabel, tentando conectar os herdeiros do trono com um novo mundo e para o qual o imperador direcionava o Terceiro Reinado e no qual apostava as suas fichas.

“A Guerra do Paraguai deixou-me algumas lembranças boas; mas me devastou intelectualmente” – Conde d’Eu

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