O Beijo no Asfalto - Uma obra de sensacionalismo jornalístico | Crítica

Estava eu navegando pelo Instagram e me deparei com uma publicação de um perfil fã do Nelson Rodrigues falando sobre a sua obra “O Beijo no Asfalto”, fui pesquisar sobre a obra e vi que o Nelson Gonçalves a escreveu em 1961 como uma peça de teatro.

Sinopse: A obra versa a respeito de um ato de misericórdia (um beijo na boca dado a um homem por outro homem na hora de sua morte) e suas repercussões na sociedade. Um repórter sensacionalista e um delegado corrupto fazem do ato um escândalo social, abalando a reputação de Arandir, que diz ter atendido o pedido do moribundo, levando a uma exacerbação dos sentimentos que conduz a um trágico e surpreendente desfecho.

Fiquei interessado pela obra e como eu não tive a chance de adquirir o livro rapidamente, decidi assistir o filme ‘O Beijo no Asfalto” (1981) de Bruno Barreto. A obra conta com 3 filmes, sendo o mais recente feito em 2018.

Cartaz de “O Beijo no Asfalto” (1981)

O que eu gostaria de comentar aqui não é nem sobre o filme em si, se ele é bom ou ruim, mas sim sobre o jornalismo sensacionalista presente na obra.

O Beijo no Asfalto começa com uma abertura arrepiante e com uma excelente atuação, um clima bem melancólico que nos entrega um momento pensativo. O Delegado Cunha é corrupto e, por conta disso, ele é muito mal falado na cidade, Cunha tenta a todo custo “limpar a sua ficha” com a sociedade. Próximo de Cunha existe um jornalista sensacionalista que está pouco preocupado em contar mentiras, o importante é vender os jornais.

O jornalista chega ao delegado relatando ter visto um atropelamento cometido por um ônibus em que se procedeu na morte do rapaz atropelado. Dentre a multidão saiu um homem que virou a vítima, que estava de bruços, e lhe concedeu um beijo na boca. Com esses relatos do jornalista, o delegado enche os olhos e vê a situação como uma oportunidade de ser bem-visto na cidade.

Imagem: Divulgação/O Beijo no Asfalto

A partir daí o delegado junto com o jornalista fazem de tudo para ganharem holofotes em cima do caso. Eles levam o protagonista do filme, e autor do beijo na boca da vítima do acidente, para uma delegacia prestar “explicações”. Ao chegar no local ele é interrogado com perguntas do tipo: “Você gosta de homem?”, “Você é casado com quem?”, “Você conhecia o rapaz que beijou de onde?”, “Você não engana a gente, nós sabemos do que o senhor gosta!”

Leia também: Rambo: Até o Fim – Uma vingança emotiva | Crítica 

O Arandir (autor do beijo) diz a verdade, diz que não conhecia o rapaz atropelado e que somente o concedeu o beijo a pedido do rapaz. Arandir confirma que nunca gostou de homens, que era casado com uma mulher e que não achou nada de errado em dar o beijo no rapaz.

Imagem: Divulgação/O Beijo no Asfalto

E o beijo no asfalto vem à tona. Rapidamente toda a cidade fica sabendo do caso, incluindo os vizinhos de Arandir, sua esposa, sua cunhada e seu sogro. Um simples beijo de misericórdia dado por um homem à outro homem acaba sendo debatido como algo errado, um crime. O acontecimento está estampado nos jornais, passando na televisão e sendo pauta de conversa entre as pessoas. A família de Arandir fica sabendo por uma vizinha que ao ler o jornal impresso ficou sabendo que o morto já tinha visitado a vila onde eles moravam e que estava procurando pelo Arandir.

A mentira tem pernas curtas?

Imagem: Divulgação/O Beijo no Asfalto

Arandir é ridicularizado por seus colegas de trabalho sendo chamado de “Bicha” e “Viado” com direito a danças e gestos afeminados. Até pelo seu chefe ele é questionado sobre a sua sexualidade. Arandir fica sabendo por eles que no jornal do dia diz que o morto já teria passado pelo local de trabalho dele e que estava procurando por ele, mas Arandir não foi trabalhar no dia. Arandir refuta o jornal na frente de seus colegas.

A mentira vende mais jornais?

Tudo que o jornalista sensacionalista queria ele conseguiu. Inventando mentiras sobre o caso para conseguir vender mais jornais, ter holofotes e abaixar o caso de corrupção do amigo delegado. Ah, não podemos esquecer do delegado! Ele sempre esteve presente na construção desse grande caso do “Beijo é Crime”. A redação do jornal, com os parâmetros do jornalista e do delegado, fizeram de tudo para vender jornais.

Vale a pena fazer de tudo para ter um momento de fama? Vale a pena criar fake news para banalizar algo que você não gosta ou pratica?

A questão aqui não é nem se é um acontecimento parecido com o do filme mas se fosse com outra coisa, como você iria reagir? A todo custo sendo bombardeado por notícias falsas que não te trazem conhecimento algum, repetindo as mesmas coisas, indo contra a realidade… isso é correto?

Estamos falando de uma obra dos anos 60, mas e hoje, temos algo parecido? Sim, sem dúvidas. Hoje graças ao avanço da tecnologia estamos com diversas formas de comunicação para compartilhar uma notícia para qualquer pessoa no mundo em poucos segundos. Isso é bom, mas ao mesmo tempo é perigoso.

Imagem: Divulgação/O Beijo no Asfalto

Hoje o que mais vemos é um mundo cheio de pessoas, sites e empresas querendo visualizações, curtidas e compartilhamentos sem um pingo de cuidado em não espalhar notícias falsas. Até mesmo na Televisão, podemos encontrar apresentadores fazendo de tudo para não perder a audiência e manter ela atenada no canal, falando a língua do “Suposto”, por exemplo. Não entendeu? Vou explicar! Em um caso de grande repercussão eles sempre tentam inventar novos detalhes sem nada comprovado dizendo: “Ele PODERIA já ter feito isso antes!”, “Ele PODERIA estar fora do país!”. Entenderam? Hoje temos muitos veículos de comunicação que passam esse tipo de mensagem ao receptor.

A mensagem que eu queria passar para quem está lendo esse artigo é:

CUIDADO COM AS SUAS FONTES!

Tome muito cuidado com as fontes que você obtém notícias, sempre procure ver se realmente é aquilo que estão passando para você, investigue sobre o assunto, até por que cada veículo de comunicação tem uma forma de passar uma notícia e muitas delas, além de passar a notícia você, ela contém a opinião do redator embutida.

Não espalhe notícias falsas. Cuidado com as notícias falsas.

“Mas o filme é bom, Matheus?” SIM! Claro, não é um dos melhores filmes que já vi mas é sem dúvidas um dos melhores filmes brasileiros. É um filme com ótimas atuações, figurinos, trilha sonora e com excelentes cenários.

O filme termina com um plot twist e de respeito. Não, não irei contar aqui porque não iria ter graça, né? Assista o filme. Vale a pena!

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